Teresa Carneiro (Portugal/Reino Unido)
Outubro 2008
Projecto
Value-less, Meaning-less
Value-less, Meaning-less é um projecto realizado por Teresa Carneiro em colaboração com Nuno Neves, Luís Gomes, Inês Marques, Luís Almeida e alunos da FBAUL, Ar.Co, IADE e Faculdade de Arquitectura, a decorrer entre os dias 8 de Outubro e 2 de Novembro de 2008, na Fábrica Braço de Prata.
Value-less, Meaning-less compreende uma exposição de trabalhos da artista e uma residência aberta que terá lugar entre os dias 8 e 15 de Outubro. Durante este período, o público poderá aceder ao espaço e acompanhar vários artistas na produção colectiva de um desenho (quarta a domingo, 18 – 23h), e ainda participar em conversas diárias com os intervenientes sobre o processo de trabalho (20 – 20.40h). A acompanhar este projecto haverá ainda uma conversa no dia 19 de Outubro, das 19h às 20h e um convite aberto ao público para participação num desenho colectivo, durante os dias 12 e 19 de Outubro, das 16h às 19h.
Fragmentando uma imagem de uma coisa ‘pequena’ e ‘insignificante’ e ampliando um a um os seus múltiplos detalhes, Teresa Carneiro utiliza um processo de desenho que desacelera e desconstroi estruturas que configuram determinadas coisas como coisas sem valor (value-less) ou como coisas insignificantes (meaning-less). Este processo começa portanto pela fragmentação da imagem que dá então acesso à ‘abertura da forma’, usando aqui uma expressão de Jean-Luc Nancy. Há vários anos que Teresa Carneiro tem vindo a abordar a escala como dispositivo descodificador de um sistema de construção de valores, através de desenhos de larga escala de um botão, uma agulha de crochet ou um pionés. Que limites se flexibilizam ou destabilizam, que novos valores se descobrem ou intensificam, que tipo de ajuste de visibilidades se constitui, desmultiplicando, por exemplo, os detalhes de um pionés através de um desenho de três metros? A quase exagerada atenção e concentração nos imensos detalhes de um pormenor quotidiano obriga à tal desaceleração ou, por outras palavras, a uma resistência a percepções mais imediatas. A abertura a este novo espaço sensível corresponde por isso a uma nova ordem temporal que suspende a imposição de significações arquétipas. De acordo com John Berger, para penetrar ou ‘criar esse imenso espaço, quem desenha tem de se reconhecer como verdadeiramente pequeno’. A escala traduz portanto um modo sensível de auto-posicionamento no mundo que é simultaneamente físico e conceptual. O desenho, por sua vez, abre-se a um ajuste de juízos que permite descobrir e ganhar consciência de novos valores de natureza interna. Deste modo, o desenho não serve primordialmente para formar, mas para expressar essa abertura – daì também as suas economias que resultam, por outro lado, na constituição de um ‘menor valor’, ou mesmo de uma ‘pequenez’ enquanto ‘objecto artístico’.
Durante esta residência um grupo de artistas participará na produção de um destes desenhos de larga escala realizado a partir de uma imagem de uma coisa pequena e insignificante. A imagem será primeiro fragmentada e depois distribuída pelos vários participantes a quem caberá a actividade singular de desenhar um determinado detalhe. Este projecto pretende desta maneira levar a resistência à verificação da forma a um extremo, dando abertura a um imenso espaço sensível alargado às operações de vários agentes.
Teresa Carneiro
CV
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