Minna Phillips
Abril 2010
Linhas de passagem que correspondem, convergem e divergem
Viajar de um país/lugar para outro aumenta a consciência das diferenças entre crenças, costumes e valores que moldam culturas, políticas e sociedades. Esta consciência surge frequentemente como resultado de cricunstancias de inclusão, exclusão, ou do confronto entre ambas as situações. Uma circunstancia de exclusão poderá ser causada por diferenças de localização geográfica, raça, cultura, classe, situação económica ou mesmo através de diferenças nos costumes, gestos e interesses socio-culturais. Por sua vez, uma circunstancia de inclusão pode referir-se a uma conduta de tolerancia/aceitação, produtividade e/ou um sentimento de pertença. Por vezes, é ainda possível experienciar um lugar ou um acontecimento através de um ponto de vista paradoxal, ou seja, a partir de uma perspectiva onde se reconhece o confronto entre elementos/comportamentos de inclusão e exclusão. Um acontecimento ou um lugar observado nesta perspectiva, não revela respostas ou soluções, abrindo-se por outro lado a diversas interpretações que proporcionam uma contínua actualização de posicionamentos e consciências.
Através dos seus trabalhos, Minna Philips explora esta posição particular que permite experienciar um objecto/evento ou lugar a partir de uma perspectiva paradoxal. Os seus desenhos relacionam-se com uma imagética que remete à representação ou significação de paradoxos, como por exemplo, extintores de incêndio, dispersores de água, ou mantas anti-fogo, que podem significar em simultâneo circunstancias de perigo e/ou segurança. Esta imagética é desconstruída nestes desenhos através da distorção de perspectivas; os desenhos são por outro lado organizados de forma simultaneamente contínua e fragmentada. A multiplicidade de interpretações e a ‘realidade’ desconstruída é depois exagerada pelo recurso a um estratégia onde uma instalação particular, num lugar particular, é realizado de forma a adaptar-se a diferentes espaços e contextos. Se por um lado, este processo exige uma certa constância na organização/desorganização de tais referências, ao mesmo tempo, a sua adaptação a um novo ambiente, num novo sistema ao qual são somadas novas significações e interpretações a partir do novo contexto, resulta num processo de continuidade que é gerador da sua própria história e cujo final é deixado em aberto. Por exemplo, o projecto realizado previamente pela artista em Boston, Massachusetts, foi mais tarde adaptado, desenvolvido e re-contextualizado em Baltimore, Maryland e é agora adaptado ao Espaços do Desenho em Lisboa, traçando neste percurso, uma história em aberto e uma continua expansão de possibilidades.
Os desenhos actuam como paisagens de papel que ocupam a parede, chão e/ou tecto de um determinado espaço. O trabalho é criado no próprio espaço da instalação, usando o meio envolvente mais próximo, assim como elementos únicos a esse espaço, que facilitam um estudo e integração da identidade do mesmo. A instalação resultante interrompe um entendimento isolado da estrutura espacial das referências a que os desenhos remetem, atenuando as linhas entre o trabalho e o espaço onde este é situado.
O processo de desenhar torna-se paradoxal ao identificar os limites de um conceito e ao estabelecer identidades, assistindo simultaneamente à transcendência desses limites de modo a criar infinitas subjectividades. A forma como o desenho actua como intermediário entre diversas formas de arte, assim como a acção de desenhar não apenas como preparação preliminar mas como qualquer coisa que viabiliza inúmeras interpretações, qualifica o desenho como ferramenta para explorar conceitos e ideias que se estabelecem pela presença/ausência de fronteiras mais ou menos definidas.
CV