Garry Barker
Abril de 2009
Desenho e pedagogia
Existem diversas abordagens ao desenho que são usadas no ensino tradicional artístico. Ao longo dos últimos anos, estas têm vindo a ser seriamente questionadas e o debate sobre o como e o porquê de desenhar poderá continuar a ser importante, quando por outro lado, se tem vindo a intensificar a necessidade da presença de espaços vistos tradicionalmente como invioláveis – a sala de modelo vivo, estúdios de desenho, equipamentos tradicionais (tais como cavaletes e os estiradores) que historicamente deram suporte às práticas do desenho.
O conceito do desenho como disciplina em expansão tem posto em causa a sua própria relevancia, à semelhança da forma como a importância da escultura foi questionada durante as décadas de 60 e 70. Os gestores [dos espaços de arte] têm vindo a abolir progressivamente espaços dedicadas, por exemplo, à fundição de metais, ou consagrados à escultura ou à construções de [objectos de arte de] larga escala, substituindo-os por espaços mais genéricos e de maior acesso a estruturas informáticas. Isto poderia ser tambem entendido como o destino para o espaços dedicados ao desenho.
Esta apresentação vai procurar debater a actual relevância do desenho e oferecer algumas sugestões sobre como será possivel pensar uma continuidade desta actividade como verdadeiramente central nas práticas pedagógicas ligadas ao ensino artístico.
O ressurgimento de um interesse pela fenomenologia, aponta para uma crescente consciência das implicações do pensamento ligado ao corpo (embodied mind thinking). Dentro deste contexto particular, interessa-me abordar o desenho como forma de mediação com potenciais extensões cognitivas.
A introdução do desenho a alunos como ferramenta processual e de pensamento tem sido um desafio contínuo para as escolas de Arte e Design. [Se previamente] cada disciplina desenvolveu um conjunto de procedimentos e medidas fundamentais à sua prática, por outro lado a libertação ou desobrigação destes ‘modos’ ou ‘maneiras de fazer’, em tempos entendidas como habilidades indispensáveis, fez com que o desenho de perspectiva ou de observação deixassem de ser entendidos como essenciais.
No entanto, durante os últimos anos tem-se verificado um ressurgimento do desenho nas Artes Visuais, ‘pelo menos’ na sua capacidade de articular a imediaticidade da percepção com o momento de cognição. É esta possibilidade de articulação entre um momento e outro que pode permitir inúmeros desenvolvimentos [nos modos de fazer do desenho] e ramificações no ambito da investigação.
Quais serão então os novos [‘modos’] essenciais [do desenho]?
CV
Director / Coordenador de Estudos Teóricos e Contextuais: Leeds College of Art and Design, Reino Unido.
Interessado em aliar [questões em torno d]as narrativas e incompatibilidades (gaps) no seu papel como artista, professor de arte e de teoria, e gestor educativo, com a questão de como será possível a construção de práticas artísticas socialmente responsáveis, que sejam viáveis nos parâmetros da sociedade actual.
Os interesses de investigação são assumidos como extensões da própria prática artística e de interesses pedagógicos. O papel do desenho como ferramenta de pensamento é central na sua investigação e está ligado à sua prática artistica, reflectindo ainda um longo interesse pela educação visual.
Os seus interesses mais recentes incidem na inter-relação entre texto e imagens visuais, nomeadamente na história do Ekphrasis, e reflexões sobre como as diferentes formas de arte podem ser usadas para sensibilizar cada um. Este interesse decorre do facto de que a ideia do que significa ser artista muitas vezes é construída a partir de um contacto com uma narrativa ficcional.