Aileen M. Stackhouse e Cordelia Underhill (Escócia)
Fevereiro 2009
Project
Drawing undone part 2
Cordelia e Aileen utilizam eventos da vida quotidiana como catalisadores da sua prática artística. Este projecto colaborativo, que surge na continuação da instalação “Drawing undone” realizada em 2007, pretende investigar uma contraposição entre práticas de desenho puras e práticas de desenho corrompidas. A partir da negociação entre duas práticas de desenho distintas, estas artistas pretendem colocar questões em torno da formação do processo de desenho e do modo como um pensamento se pode constituir e manifestar a partir de abordagens organizadas.
Este projecto relaciona-se tambem com uma exploração do desenho como forma de conhecer e des-reconhecer. Na prática, este projecto vai testar possibilidades de tempos e conteúdos alargados vs. tempos e conteúdos compactados no desenho de linha, e ainda a relação entre a linha desenhada através de um corpo contido no interior de um espaço arquitectónico que lhe é externo. As artistas vão começar por trabalhar estas questões em separado criando uma tensão que poderá ou não ir ao encontro da linha e espaço da outra artista.
As linhas nos desenhos de Aileen não denunciam qualquer tipo de intencionalidade. Sucumbem antes ao carácter aleatório da repetição forçada e imprecisa. O primeiro toque é aquele que importa, pois determina e mapeia um padrão de movimentos do pensamento do desenho. Aqui, nenhum conteúdo tem a possibilidade de ser definido pois está entregue a um ritmo aglutinador. A abordagem de Cordelia é desenvolvida a partir da colagem de linhas directamente na parede, parecendo operar segundo princípios completamente distintos dos de Aileen. Neste contexto, a linha ‘recortada’ na parede desenha um espaço entre as coisas, desvendando uma intimidade na linha desenhada. No entanto, tal como esta linha é desenhada ao longo de todo o espaço arquitectónico, ela diz tambem respeito a um movimento que implica um traçar do corpo e dos seus ritmos e o modo como estes são tornado visíveis. Tal como as linhas de grafite de Aileen, estas linhas construídas a partir de pasta de papel não descrevem uma aresta mas um rasto deixado numa superfície que se constitui e se reconhece através dessa mesma linha. Enquanto o papel recortado de Aileen historiciza a sua própria ‘aparição’ (ou o modo como o desenho se manifesta) num distanciamento claro das linhas rígidas de grafite criadas dentro das margens explícitas do papel; as linhas coladas de Cordelia desassociam os planos da parede das suas estruturas de credibilidade. A colagem ‘directa’ de linhas de papel nas superfícies da parede, tratando-a como uma superfície de desenho sem margens, ignora a presença de angulos (pré)existentes e cria a ilusão de novos angulos.
Os desenhos de Aileen parecem declarar uma submissão aos materiais ditada pelas limitações dos mesmos. No entanto, a materialidade que se torna manifesta neste processo de trabalho occorre de uma estratégia de técnicas escolhidas perversamente que envolvem um percurso de oposição e resistência. Os processo de Cordelia transformam o material orginal – desperdícios de material gráfico impresso convertido em linhas de pasta de papel – subvertendo os conteúdos imaginários originais do material gráfico e inventando novos eventos para a linha.